O nascimento de um segundo filho altera toda a dinâmica familiar.
Se por um lado, a chegada de um bebê traz felicidade, há alguns sentimentos que podem provocar angústia nos pais e no irmão mais velho. Na vida adulta a relação de irmãos também é impactante podendo contar com casos de um amor inexplicável e identificação entre ambos, assim como ser fruto de atritos familiares.
Os estudos na área não são tão frequentes, mas reflexões filosóficas e psicanalíticas ajudam a entender qual a importância do vínculo e desafios a serem abordados no âmbito familiar. O pediatra do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, Renato Santos Coelho, destaca um dos sentimentos mais comuns quando é criado o vínculo entre irmão que é o ciúme, questão trazida inúmeras vezes pelos pais nos consultórios médicos. “O ciúme é um sentimento universal e humano e não pode ser evitado. O irmão que diz que não tem ciúme algum, pode na verdade estar negando. O irmão mais velho sempre foi o centro das atenções e viveu a experiência de ser o único. O segundo, terceiro ou quarto filho nunca passou por isso, então a maneira como cada um vai lidar é diferente. Tudo vai depender do temperamento da criança. Recomendo aos pais não dizer para criança que ela não pode ter ciúmes. Ao invés disso, dizer que entende o filho e compreende o sentimento se dispondo a ajudar”, afirma o pediatra do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, Renato Santos Coelho.
O médico destaca outro um fenômeno cultural. A tradição antiga era de famílias numerosas. Na sociedade contemporânea o número de irmão diminuiu muito. Há famílias com menos irmãos e muitos filhos únicos. “Há experiências muito boas entre irmãos, na qual se tornam amigos inseparáveis para o resto da vida trazendo cumplicidade. Por outro lado, não dá para esquecer que há muitos casos de problemas familiares entre irmãos. Um alerta é para que o pensamento romântico e clássico de que os pais sempre vão gostar dos filhos da mesma maneira pode ser interpretado de maneira diferente. O sentimento de gostar dos filhos é para todos, mas nenhum pai ou mãe precisa se sentir culpado por ter uma sintonia ou identificação maior com um determinado filho”, completa Renato.
Por fim, o cenário atual está acentuando alguns problemas por conta do confinamento nas residências. A pandemia colocou todo mundo dentro de casa e nessa hora as diferenças se acentuam. “Assim como aconteceram casos de problemas entre casais, os problemas entre irmão se acentuaram. É preciso cooperação e respeito para que todos passem por essa situação”, finaliza o médico.