O que é um símbolo religioso?
O que faz um símbolo qualquer se tornar religioso? Numa primeira e rápida definição, um símbolo se torna religioso porque faz parte da liturgia ou da celebração de determinado grupo. Os ritos e atos de cultos constituem o principal lugar de exercício e vivência dos símbolos dentro da religião.
No entanto, faz-se necessário também levar em consideração que pelo fato de qualquer objeto ou mesmo pessoa – porque uma pessoa também pode ser um símbolo religioso – ser utilizada ou fazer parte de uma celebração não lhe confere o adjetivo de religioso. A simples presença no local ou mesmo que faça parte do espaço sagrado, isso não significa necessariamente que aquele objeto seja considerado um objeto sagrado ou um símbolo religioso. Uma das formas que pode contribuir para que um objeto natural se transforme ou seja compreendido como símbolo, se deve à experiência religiosa que o fiel ou o grupo religioso vivenciou com este objeto.
Nesse sentido, o símbolo religioso é uma manifestação ou sinal da crença, expressa uma fé. É uma representação visual do sagrado. Para se tornar um símbolo religioso, faz-se necessário que haja uma motivação a partir de uma crença religiosa. Isso significa, por exemplo, que uma vela acesa em uma casa representa apenas um objeto utilizado para clarear o ambiente, mas se essa mesma vela estiver acesa em um contexto de celebração, culto ou ritual religioso, mesmo que seja na casa, rua ou no templo, ela passa a ter outro significado visto que a motivação que conduziu a vela àquele status é uma motivação religiosa, pertencente à crença ou à fé. Portanto, o usuário do símbolo deve ter a intenção de usá-lo como símbolo religioso. Desta forma, o símbolo perde sua interpretação natural, direta, passando a significar outra coisa. Neste caso, o símbolo adota um sentido transcendente, deixando de lado o sentido literal e comum do material utilizado.
O símbolo também pode ter caráter religioso simples¬mente porque a comunidade religiosa a qual ele está ligado assim o reconhece. A comunidade confere esse caráter e o reconhece como elemento que tem senti¬do e significado com relação à experiência religiosa daquele grupo. Além disso, o símbolo passa a ser objeto de veneração, adoração, proteção, adquirindo muitas vezes poderes mágicos e sobrenaturais. Existe nele uma verdade transcendental.
Os símbolos têm valor porque dão significados que vão além do seu valor natural, indica algo que está fora dele. São sinais visíveis de uma teia de significação invisível. Adquirem um valor religioso porque estão ligados a significados que dão sentido à vida, como a felicidade, a morte e o próprio sentido da existência. O poder simbólico é um poder de construção da realidade.
O símbolo religioso traz consigo significados conferidos e elaborados historicamente e somente tem um significado porque o recebeu dentro de uma cultura historicamente localizada, ou seja, o símbolo não carrega nenhuma força ou poder misterioso que lhe seja intrínseco. Isso significa que ao ser transportado para outra cultura que o desconhece, ele pode adquirir outro significado. No entanto, o símbolo religioso pode induzir uma prática visto que traz à memória a ação do grupo que o venera e que o reconhece. O significado religioso é o significado dado pelo grupo.
O símbolo religioso pode adquirir novos significados ou ser ressignificado de acordo com o andamento histórico. Por exemplo, na sociedade capitalista atual, o simbolismo do Natal cristão tomou a forma de consumismo, perdendo o sentido original. Existe também uma forma intencional de mudar o significa¬do de determinado símbolo quando se quer deturpar ou rejeitar determinado grupo religioso ou determinada cultura. Nesse caso, as simbologias culturais ou religiosas são apresentadas de forma pejorativa ou maléfica.
Nessa reflexão argumentei que quando um objeto é reconhecido como símbolo religioso, em geral isso acontece porque aquele objeto faz parte da liturgia ou celebração do grupo religioso. Disse também que um objeto para ser entendido como símbolo religioso deve ser utilizado a partir de uma motivação religiosa. Afirmei que o símbolo religioso tem esse caráter simplesmente pelo fato de ser reconhecido como tal pelo grupo que o utiliza. Nesse sentido, o símbolo passa a possuir um significado que vai além do seu estado natural. Finalmente, conclui defendendo que o símbolo religioso é resultado de seu contexto histórico.
Clemildo Anacleto da Silva
Professor do PPG Mestrado em Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista- IPA. Coordenador Núcleo de Estudo sobre Educação, Diversidade e Inclusão.
Canal Religião e Sociedade
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