Mesmo com expansão do número de leitos, aumento de casos da covid-19 eleva preocupação em Canoas.

Em quinze dias, números dobraram; disseminação ganha força frente ao relaxamento de comportamentos essenciais à prevenção. 

Foi no dia 20 de março que Canoas registrou o primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus. Nove dias antes, a Organização Mundial da Saúde (OMS), frente a cenários de bastante gravidade em diversos lugares, havia declarado que o mundo estava passando por uma pandemia. Cientificamente, o conhecimento sobre o vírus ainda era muito pequeno, mas em observância às consequências da sua rápida disseminação já era possível adiantar a gravidade da situação. 

Antes mesmo da primeira confirmação no município, a Prefeitura de Canoas já havia criado um comitê multissetorial para tratar da prevenção e combate, além de ter editado um decreto determinando medidas para cessar aglomerações. O avanço da covid-19, no entanto, não era uma questão de possibilidade e, sim, de velocidade, que especialistas em saúde indicaram desde o princípio ser o fator número um para determinar o sucesso no enfrentamento do vírus. E foi assim, passados pouco mais de três meses, que no último domingo (28) o prefeito Luiz Carlos Busato anunciou que o sistema de saúde municipal estava próximo de atingir seu limite. 

Canoas é referência para 156 outros municípios do estado, ou seja, recebe pacientes de diversas localidades e a ocupação de leitos é regulada pelo governo do estado. Nesta quarta-feira (1/7), a cidade tinha confirmados 695 casos e 23 óbitos e dos 88 leitos de UTI, entre públicos e privados, 85% estavam ocupados. Os altos índices acenderam um sinal de alerta, uma vez que há duas semanas, quando os números eram quase metade dos registrados atualmente, mais 10 leitos de UTI foram abertos no Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC).  

Mesmo com a expansão, a busca por atendimentos seguiu aumentando e, consequentemente, a necessidade de leitos de UTI também. Os hospitais de campanha triplicaram a média de pacientes acolhidos por dia. “Com todos, tenho a responsabilidade de ser realista e transparente. A previsão de uma situação ainda mais aguda, infelizmente, está se confirmando. A expansão da pandemia é muito grave”, disse o prefeito. 

Para o chefe do departamento de pneumologia do Hospital Universitário, Roberto Tonietto, o crescimento da doença, embora esperado, precisa ser observado com muita atenção. Ele destaca que a sensação de “aumenta, mas falta” quanto aos leitos é normal em uma pandemia. “No mundo inteiro, mesmo com a abertura de novos leitos e outras ações, houve dificuldades em absorver a demanda. Por isso, as medidas de distanciamento são tão importantes”, explica. 

Segundo o secretário municipal da Saúde, Fernando Ritter, o estresse do sistema de saúde não se resolve apenas com as ações da administração pública. O comprometimento da população, através da obediência irrestrita às medidas de prevenção, como o distanciamento e o uso de máscara, é determinante. “Temos alertado constantemente sobre o relaxamento dos cuidados e sabemos que as pessoas estão cansadas, mas isso está impulsionando a gravidade da situação. Então, é fundamental que a comunidade retome os cuidados de antes” alerta. 

A evolução da doença e das ações de enfrentamento desde o início 

26 de fevereiro 

O governo federal confirma o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil. A detecção ocorre em São Paulo. 

11 de março 

A OMS eleva a classificação da disseminação do vírus para o status de pandemia, ou seja, há o espalhamento global do novo coronavírus. 

13 de março 

A Prefeitura de Canoas cria um comitê multisetorial para tratar sobre ações de enfrentamento e prevenção ao novo coronavírus. 

18 de março 

A administração edita o primeiro decreto que suspende aulas e prevê regras para o exercício de atividades econômicas e ações de distanciamento social. Entre outras ações, dá início a higienização de espaços públicos de grande circulação. 

20 de março 

São confirmados os dois primeiros casos da covid-19 na cidade. A Prefeitura decreta situação de emergência e amplia medidas de restrição de atividades. 

Para evitar aglomerações, Canoas dá início a vacinação contra a gripe para idosos em suas residências. 

23 de março 

A Prefeitura inicia os primeiros trabalhos para criação de 932 novos leitos na cidade, divididos em quatro locais: Hospital Universitário (estrutura hospitalar própria e de campanha); nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) Rio Branco e Boqueirão e no Hospital Nossa Senhora das Graças (estruturas de campanha). 

Apenados do programa Recomeçar passam a trabalhar para agilizar a reforma de dois andares do Hospital Universitário. 

10 de abril 

O primeiro óbito é confirmado em Canoas.  

A cidade passa a participar da pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que dimensiona a prevalência da contaminação no país. Os resultados embasam as ações de políticas públicas do governo do estado. 

16 de abril  

O primeiro hospital de campanha, ao lado da UPA Rio Branco passa a funcionar. O local conta com 10 leitos clínicos e 2 de UTI, estruturados para receber pacientes com suspeita ou confirmação de contaminação pelo novo coronavírus.  

São 16 os casos confirmados desde o primeiro registro. 

A Prefeitura passa a recomendar o uso de máscara na cidade. 

Pacientes com síndromes gripais que procuram as Unidades Básicas de Saúde e as Clínicas de Saúde da Família passam a ser acompanhados, através de telefone, por profissionais da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). 

1º de maio 

Diante do desenvolvimento estável dos números da covid-19 e da adesão da população às medidas preventivas, a Prefeitura edita um novo decreto flexibilizando o funcionamento do comércio e outras atividades econômicas. 

A Prefeitura dá início a um trabalho mais rígido e intenso de fiscalização das medidas estabelecidas para a prevenção do novo coronavírus. 

O uso de máscaras passa a ser obrigatório em estabelecimentos comerciais e no transporte de passageiros. 

11 de maio 

O governo do estado implementa o Modelo de Distanciamento Controlado. Canoas é classificada como bandeira laranja, o que representa risco médio para o município. 

A cidade tem, ao todo, 41 casos confirmados e duas mortes causadas pela covid-19. 

14 de maio 

É inaugurado o segundo hospital de campanha, junto à UPA Boqueirão. Assim como o primeiro, o local possui 10 leitos clínicos e 2 de UTI. 

A terceira etapa de vacinação contra a gripe, destinada a crianças, gestantes, puérperas e deficientes físicos, tem início e é ofertada por equipes da SMS nas residências do público-alvo.  

29 de maio 

Os dois hospitais de campanha chegam à marca de 1,3 mil atendimentos. A média diária é de 50 atendimentos. 

Ao todo, Canoas contabiliza 117 casos e seis óbitos em decorrência do novo coronavírus. Um aumento de mais 50% em relação ao verificado quinze dias antes. 

A expansão da doença leva a novas restrições: o fechamento do comércio, praças e parques aos domingos. 

São registradas 1,8 mil ações de higienização de espaços públicos. 

8 de junho 

Após uma reforma, dois novos andares do Hospital Universitário são reabertos, totalizando 200 novos leitos exclusivos para pacientes com suspeita ou confirmação da covid-19, que após a pandemia seguirão como legado para a cidade. 

Com os novos espaços, a estrutura de campanha ao lado do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG) é desativada. Permanecem funcionando as montadas ao lado das UPAs Rio Branco e Boqueirão. 

Os leitos clínicos, anexos ao Hospital Universitário, seguem aguardando a necessidade de ativação, conforme o plano de contingência da cidade. 

18 de junho 

Os dois hospitais de campanha ultrapassam 5,5 mil atendimentos desde suas respectivas inaugurações. 

A cidade tem 326 casos confirmados da covid-19 e oito mortes causadas pela doença. 

A taxa de ocupação de leitos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ultrapassa 80% e 10 novos leitos são disponibilizados no Hospital de Pronto Socorro de Canoas.  

São registradas, desde o início da pandemia, duas mil ações de fiscalização quanto ao cumprimento das regras de prevenção e combate ao novo