A música Imagine de John Lennon, em uma de suas estrofes, diz o seguinte: “Imagine todas as pessoas vivendo em paz. Você pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único. Tenho esperança que um dia você se juntará a nós e seremos um único mundo.” Essa é a esperança que ainda nos move nos dias atuais.
Quando falamos que existe intolerância religiosa no Brasil, em geral, as pessoas reagem com surpresa, porque, segundo elas, esse é um problema do passado. É verdade que no passado a intolerância religiosa era mais visível, explícita, mas não significa que não ocorra ainda hoje.
O Brasil é um país altamente religioso. Temos as mais variadas expressões de fé convivendo no mesmo espaço. Esse convívio nem sempre é saudável ou harmônico. O cristianismo ainda predomina. De acordo com o último censo do IBGE, 90% da população se declarou cristã (protestantes, católicos e espíritas). Mas, há também os que professam outros credos como os praticantes de religiões de matriz africana e indígena, os budistas, os muçulmanos e os que não professam nenhum credo.
Houve uma época em que as pessoas eram perseguidas simplesmente por não professarem a religião oficial ou por se declararem ateias. Tanto os cristãos, quanto os muçulmanos e os judeus já sofreram esse tipo de perseguição. Atualmente, no Brasil, os que mais sofrem intolerância religiosa são os praticantes de religião de matriz africana.
A causa da intolerância está no fato de um grupo se achar detentor da única verdade, do único caminho que leva o ser humano a uma relação com o divino. Baseado nisso, ele não se abre, nem permite o diálogo e convívio com outros grupos religiosos. Em sua visão, o outro deve ser convertido. A consequência é o estabelecimento de um processo de desqualificação e demonização do outro. Esse conjunto de ideias é suficiente para justificar e defender a perseguição ao outro. Ao grupo perseguido restam poucas opções: se converte, ou suspende sua atuação ou é eliminado. No Brasil, infelizmente, ainda existem grupos religiosos fundamentalistas que defendem esse tipo de pensamento, contribuindo, dessa forma, para o aumento da intolerância religiosa.
Frequentemente, ouve-se que as investidas evangelísticas de um grupo sobre o outro com o objetivo de arrebanhar adeptos fazem parte da liberdade de culto e de expressão. É verdade que no Brasil há uma grande liberdade para expressar a fé. No entanto, não devemos confundir liberdade de expressão com discurso de difamação e ódio. A liberdade religiosa e de expressão encontra seu limite na lei, no respeito e no sofrimento do outro. A divulgação da fé não pode tornar-se oportunidade para agredir, difamar, desqualificar e inferiorizar o outro.
No Brasil, a Lei Caó (Lei 7.716/89) alterada pela Lei 9.459/97 afirma em seu artigo primeiro que “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.” Portanto, a lei oficializa o crime de discriminação ou preconceito religioso.
A tolerância não é condescendência nem a concordância com tudo. Tolerância não é “aguentar ou suportar” o outro. Tolerância implica em respeitar e reconhecer o outro como um ser de direito.
Levando em consideração esses limites, podemos concluir que em uma sociedade democrática que preze pela liberdade religiosa deve haver espaço para aqueles que não comungam das mesmas ideias, das mesmas crenças e da mesma fé. Colaboração: Prof. Clemildo Anacleto da Silva – Professor do Programa de Pós-graduação do Centro Universitário Metodista – IPA